natalia

terça-feira, 23 de março de 2010

Mó inferno astral


Dizem que durante os trinta dias que antecedem seu aniversário, você vive um inferno astral. Eu não costumo acreditar nesse tipo de coisa, a menos que sirva para me livrar de alguma situação chata, tipo, "foi mal ter batido no seu carro, mas é que eu tô no meu inferno astral" ou "desculpa não ter atravessado a cidade para ir no seu churrasco escroto, mas, sabe como é, inferno astral."
E no meio disso tudo, minha melhor amiga resolveu promover um double date e me apresentar ao melhor amigo do namorado dela.
"Você vai adorar o Beto", ela disse, fazendo campanha. "Tem tudo pra dar certo, ele é a sua cara."
"A minha cara? Por que eu iria querer sair com alguém que tem a minha cara? Eu nem gosto tanto assim de mim!"
"Ai, Natalia", reclamou, sentando-se em um dos banquinhos da cozinha. "Ele ficou todo interessado."
"Ah, é?", perguntei, sentando-me também.
"É. Ele te achou bonita, gostou dos seus textos, te achou mó astral."
"Desculpa, quê?"
"Quê?", ela tentou disfarçar.
"Que que você disse? Ele me achou o quê?"
"Sei lá, interessante", respondeu, desviando o olhar.
"Não, não, não. Você disse mó astral. Foi isso que ele disse? astral?"
"Não sei, Natalia. Ele disse várias coisas, não lembro agora."
"Sei", respondi, contraindo os olhos. "Ele é um daqueles caras que acham as coisas mó astral, não é?"
"E daí? Qual é o problema do cara achar as coisas mó astral?
"Nenhum. Ele é uma pessoa dos anos 70 que entrou numa máquina do tempo e veio parar nos dias de hoje?", perguntei.
Minha amiga se levantou do banquinho, desistindo de continuar a conversa.
"Eu já devia ter imaginado", prossegui, ignorando-a. "Quem tem o apelido Beto hoje em dia? Beto?", debochei. "Ha, aposto que o Beto é mó astral."
"Esse aqui é o Beto", ela disse, levantando o celular e mostrando a foto dele no Facebook.
"Uôu", respondi, boquiaberta.
O cara era gato pra cacete.
"Bom, mas você também não lembra direito se ele disse mó astral, né?", argumentei. "Ele pode muito bem ter dito outra coisa e você fez confusão. Você sempre faz confusão. Tremenda confusão."
"Então eu posso marcar?", ela perguntou, enquanto eu sorria.

Uns dias depois, lá estávamos. Eu, minha amiga, o namorado dela e o Beto.
A foto não fazia jus ao rapaz. Ao vivo ele era ainda mais gato.
"Mas então, Beto", eu disse, quebrando o gelo. "Eu soube que você andou falando de mim por aí."
"Só coisas boas", ele respondeu.
"Sei. Mas se você pudesse resumir essas coisas boas em duas palavras, quais seriam?"
"Como assim?", ele perguntou.
"É, Natalia, como assim?", perguntou minha amiga, visivelmente constrangida.
"Não, é porque eu fiquei bastante intrigada com um termo que você usou pra me definir."
"Que termo que eu usei?"
"Agora eu esqueci. Me ajuda a lembrar."
"Foi interessante?"
"Não, não. Foi outra coisa. Foi tipo... muito espirituosa...", dizia, tentando obter uma confissão.
"Natalia, vamos ao banheiro rapidinho?", minha amiga me intimou, já me puxando pelo braço. "O que você tá fazendo?"
"Desculpa, mas eu não posso me apegar a ele antes de descobrir se ele me acha mó astral."
"Você é louca!"
"Não, eu sou mó astral", rebati, fazendo o sinal de paz e amor.
Quando voltamos à mesa, tentei de todas as formas arrancar aquelas duas palavrinhas infelizes do Beto. Mas ele não dizia, de jeito nenhum. Descobri naquela noite que ele me achava uma porção de coisas, exceto a que eu mais esperava ouvir.
No final das contas, acabei esquecendo o assunto. Ele era muito bonito e surpreendentemente culto. Jamais sairia por aí dizendo mó astral. Minha amiga que era meio surda e disléxica. Devia ter sido o pesadelo das rodas de telefone sem fio quando era criança. "Bola", sussurrava a coleguinha ao lado - ao que ela respondia: "heeeein?".
Por isso, eu aceitei a carona do Beto até a minha casa, onde, depois de me dar um beijo bem interessante, ele se despediu dizendo:
"Gostei de você. Essa noite foi mó astral."

Quando ele me ligou no dia seguinte, eu não tive dúvidas. "Foi mal te dar um fora, mas, sabe como é, tô no meu inferno astral."

20 comentários:

  1. Supimpa esse episódio, morô broto?

    ResponderExcluir
  2. Mó espirituosa você, Natalia. rs

    ResponderExcluir
  3. Puuutz .. que inferno astral, ein ?

    ResponderExcluir
  4. ô natália, eu ESPERO q o fora tenha sido apenas ficção. e se não foi, indica o bofe que eu sou mó astral HAHAHAHAAH brinks

    bjs

    ResponderExcluir
  5. me matou de rir, e ainda deu pra fazer o final surpreendente...bom pacas!!!

    ResponderExcluir
  6. Hahahahahaha, muito engraçado! Bom saber que eu não sou a única psicótica com certas expressões!

    ResponderExcluir
  7. As amigas sempre nos colocam nesses programinhas de 'tenho um amigo pra te apresentar'. Pensando pelo lado bom do mó astral, pelo menos o cara era mais gato do que na foto, o que geralmente não acontece, esse photoshop tem nos custado caro hein..

    ResponderExcluir
  8. Adorei o seu blog!
    10 mesmo!
    Ri pra caraca com as histórias... e olha... não és a única psicótica! hihihi
    tbm sou...uma psicótica zen... mó controlada... mas nem sempre...

    ResponderExcluir
  9. Natália! Será que é porque sou paulistana, habitante de outra cidade-nao-brasileira que custo a entender o seu probleminha com o "mó astral" do cara? Se ele era gato, culto, putz...isso só pode ser ficçao! Se nao for, me passa o número dele? (sô mó gente fina!)

    ResponderExcluir
  10. Eu tenho um amigo que fala "mó baixo astral"!
    Levo na sacanagem e morro de rir... =)
    Bom-humor hoje em dia é artigo de luxo, hein?! Veja pelo lado positivo: ele sempre saberia como fazê-la sorrir... hehehehehe

    ;-)

    Inté!

    ResponderExcluir
  11. infernal astral!!
    eu disse... mas sem querer jogar uma mandinga...

    Abraço

    ResponderExcluir
  12. Sensacional, como todos os textos.
    Abraço

    ResponderExcluir
  13. Qual o problema afinal com o 'mó astral'? Pode ser um pouco cafona, mas não é o fim do mundo.

    ResponderExcluir
  14. Pô! As vezes tbm fico psicótica com algumas expressões, mas nesse caso até daria um desconto, não é qqr dia q vc encontra algm bonito,legal e culto.

    hahaha

    Veio num cavalo branco tbm?

    ResponderExcluir
  15. Já tinha lido o post e não tinha comentado. Até que ainda pouco, um ator twittou "mó astral"... Lembrei de vc na hora! HAHAHAHA

    Eu também tenho minhas implicancias. Mas nem é com expressões. É com camiseta regata (hurg!).

    ResponderExcluir
  16. Mó Astral merrmo esse texto broto! Tás a fim dum role...? Bate um lero? Achei vc mó brasa mora?

    Quando cê faz aniversário merrmo...? :)

    ResponderExcluir
  17. Eu era mó astral... A vida é dura!

    ResponderExcluir
  18. Quando voltamos à mesa, tentei de todas as formas arrancar aquelas duas palavrinhas infelizes do Beto. Mas ele não dizia, de jeito nenhum. Descobri naquela noite que ele me achava uma porção de coisas, exceto a que eu mais esperava ouvir.
    gul ahmed lawn suits wholesale ,
    gul ahmed lawn collection wholesale ,

    ResponderExcluir

 
Designed by Thiago Gripp
Developed by Márcia Quintella
Photo by Biju Caldeira